A realidade dos recursos hídricos no Brasil abre debates da 72ª Soea em Fortaleza

12006465_995719587145911_2299594333016601087_o A temática “água” norteou os debates do primeiro dia de palestras da 72ª Semana 11893791_995719590479244_4243502588600416544_oOficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), que teve início ontem (15), no Centro de Eventos de Fortaleza e vai até o dia 18, com o tema “Sustentabilidade: água, energia e inovação tecnológica”. A palestra magna foi ministrada pelo secretário de Recursos Hídricos do Ceará e ex-ministro da Integração Nacional, Francisco José Coelho Teixeira, um dos principais responsáveis pelas obras e projeto da transposição do rio São Francisco.

11999792_995719657145904_3235512760051888002_oO palestrante abordou a realidade dos recursos hídricos no Brasil com foco na 12002596_995719713812565_5069727172415897994_odiversidade de um país continental, com mais de 8 milhões de quilômetros quadrados e diferentes regiões. Comparou a Amazônia, região com forte índice de chuvas que detém mais de 60% da oferta hídrica brasileira, com outras regiões como o Nordeste, que tem apenas 3% da disponibilidade hídrica e as regiões site_MagnaAgua-plateia_16m_72soea_003Sudeste e Sul que, embora tenham bastantes chuvas, já apresentam problemas recorrentes pelo excesso de consumo e desperdícios com abastecimento e distribuição.“A segurança hídrica é um tema mundial que não é debatido devido à crise. Temos cerca de 14% da precipitação do mundo, porém concentrada na Amazônia”. Teixeira lembrou que este ano o Brasil sofrerá novamente com a incidência do fenômeno El Niño, um dos mais fortes já registrados, causando o aumento da temperatura do Pacífico e, como consequência, estiagens no Nordeste e enchentes no Sul.

O secretário ressaltou a necessidade de se desenvolver um plano nacional de segurançasite_MagnaAgua-tela_16m_72soea_001 hídrica focado nas peculiaridades de cada estado e região. Uma das tendências, segundo ele, será o adensamento de reservatórios com adutoras interligadas que levam água a diversas cidades, sobretudo nos grandes centros urbanos. Teixeira afirmou que o Brasil ainda não tem a experiência do planejamento a longo prazo na área de recursos hídricos como tem o setor elétrico. “O planejamento ainda tem que ser implementado e aperfeiçoado em nível nacional. No PAC havia recursos para obras, mas não para um plano nacional. Precisamos fazer uma gestão eficiente baseada em ações planejadas, obras de infraestrutura e inovação tecnológica”.

Nordeste: estiagem, urbanização e mudança na dinâmica econômica

O palestrante detalhou a situação da região Nordeste diante da crise de água que assola o país, sobretudo no Ceará. Citou a diminuição no índice dos reservatórios que era de 60% em 2012, e caiu para cerca de 40% em 2013, 30% em 2014, 20% no início de 2015 e, atualmente 16%. Tal contexto é decorrente não só da estiagem como também do processo de urbanização, gerando aumento no consumo de água e a mudança na dinâmica econômica, sobretudo na agricultura e pecuária, antes extensiva, agora com pasto irrigado.

Como ações emergenciais para segurança hídrica na região e a convivência com a seca, destacou a necessidade da construção de adutoras de montagem rápida e poços, o uso de estações de tratamento móveis, a operação de carros pipas, campanhas de uso racional e alocação negociada de água em condições de escassez. Além disso, o racionamento e a suspensão de emissão de outorgas, o aumento da fiscalização e ação coerciva com aplicação de multas para consumo excessivo. Entre as ações estruturantes, destacou o fortalecimento dos órgãos do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos (Sigerh), o aperfeiçoamento dos instrumentos de outorga e cobrança pelo uso da água, o fortalecimento do poder de polícia e o aproveitamento da água subterrânea como reserva estratégica, além da busca por fontes alternativas como a dessalinização.

A política de incentivo ao reuso e uso racional e a introdução de uma cultura de captação da água da chuva em áreas urbanas foram outros aspectos citados pelo secretário. Desperdício e falta de tratamento do esgoto potencializam a crise O debate seguiu com a explanação de Francisco Lopes Viana, presidente do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec) e ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA). Ele destacou três pontos específicos: o abastecimento do estado de São Paulo, sobretudo o Sistema Cantareira – que há três anos operava com uma capacidade de 33 m³/s e hoje opera com 11 metros cúbicos por segundo -, os problemas específicos do Nordeste e a questão da hidroenergia. “A maioria das hidrelétricas opera sem reservatórios, gerando energia apenas com a vazão diária do rio que na maioria das vezes é baixa.”

O engenheiro químico Celso Giampá, administrador da Clínica de Engenharia, acrescentou dois aspectos ao debate: os problemas naturais que são previsíveis e passíveis de planejamento, e aqueles causados pelo homem que são imprevisíveis e necessitam da visão dos profissionais da área tecnológica e de ações governamentais. “A perda média no processo de captação e distribuição de água é de 40%, mas temos cidades que chegam até 65% de desperdício.” Falou ainda da questão do esgoto, principal responsável pela contaminação dos mananciais, sendo que 80% da água do abastecimento vai direto para a rede de esgoto sem nenhum tipo de tratamento. “Água que poderia ser tratada e reutilizada, como na maioria dos países desenvolvidos. No Brasil não reutilizamos uma gota sequer e ainda estragamos a água potável com o esgoto. São fatores que poderiam minimizar a atual crise.”

Por Adriano Comin Equipe de Comunicação do Confea/Crea-SC Revisão: Lidiane Barbosa Fotos: João Batista Fotografias Banco de imagens: João Anastácio e Paula Moreira

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