Brasil tem déficit de 40 mil engenheiros


A escassez de profissionais para trabalhar em campo com infraestrutura melhora propostas salariais, mas prejudica a produção tecnológica do país e reduz a quantidade de mestres e doutores

Se a Engenharia é a sua área, há grande chance de você ser disputado pelo mercado de trabalho assim que estiver com o diploma nas mãos. O motivo é simples, mas difícil de ser resolvido. O Brasil está carente de engenheiros, principalmente no campo técnico – focado na engenharia prática, longe das esferas administrativa, financeira e de consultoria. O país forma, em média, 40 mil profissionais por ano, enquanto a demanda é o dobro disso.

Do total de formandos, apenas um terço atua na parte técnica. O restante, ou monta a própria empresa (e trabalha com consultoria), ou está em áreas mais burocráticas (como a financeira e a administrativa), que, na última década, contrataram muitos engenheiros pagando salários muito atrativos aos novos profissionais.

O panorama é outro. Com o mercado de infraestrutura superaquecido, a necessidade de mão de obra técnica aumentou e há dificuldade de encontrar engenheiros recém-formados, assim como seniores, com mais de cinco anos de profissão. “Toda vez que a economia cresce, aumenta também o investimento em infraestrutura, o que logicamente precisa de engenheiros para existir. Se o país não os encontra aqui, vai importar mão de obra de outros países”, explica Vanderli Fava de Oliveira, diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge).

Se por um lado a importação resolve o problema imediato de carência de profissionais, por outro deixa o desenvolvimento do país submetido à tecnologia estrangeira, o que não é positivo para uma nação que precisa se desenvolver. Para tentar resolver o problema, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) organizou um censo entre os profissionais para descobrir onde eles estão atuando e incentivá-los a trabalhar na área técnica. O levantamento terminou no início deste mês e os dados ainda estão sendo analisados.

“No total, temos registrados 800 mil profissionais [no país], mas nem todos exercem a profissão. Isso corresponde a seis engenheiros para cada cem pessoas, enquanto nos países europeus e asiáticos a média é de 25”, explica o presidente do Confea, José Tadeu da Silva.

Evasão

Apesar da falta de engenheiros, a quantidade de graduações em Engenharia no Brasil – em todas as 60 habilitações – aumentou seis vezes em 15 anos. Saltou de 454 cursos em 1995 para 3.045 em 2012. Entre as áreas que mais cresceram está a Engenharia da Produção, que passou de 30 para 450 cursos.

O principal motivo para os cursos não darem conta de suprir a necessidade de mão de obra é a taxa de evasão das engenharias, que é de 43%, segundo dados da Abenge. As causas da desistência são várias. Entre elas estão a dificuldade que os estudantes têm em disciplinas como Matemática e Física e a defasagem da educação básica. “Estamos formando alunos fracos no ensino fundamental e médio, que não dão conta de encarar um curso pesado como Engenharia. O estudante entra e mal consegue compreender um texto, quanto mais entender cálculos complexos”, comenta o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) José Soares Coutinho.

Alto salário inibe formação continuada

O mercado superaquecido também é responsável por tirar engenheiros da sala de aula. A falta de profissionais no país faz com que os salários aumentem e superem facilmente o que é pago em bolsas de mestrado e doutorado – R$ 1,2 mil e R$ 1,8 mil, respectivamente.

Nesse contexto, em vez de terminarem a graduação e darem continuidade aos estudos, os novos engenheiros preferem ingressar no mercado de trabalho, que paga até R$ 15 mil em áreas em que a oferta de profissionais é ainda menor, como Engenharia do Petróleo. “Se o engenheiro aceita viajar para onde a empresa precisar, o salário tende a ser maior do que isso. Petróleo, por causa da descoberta do pré-sal, é uma área que precisa desesperadamente de gente capacitada”, diz Vanderli Fava de Oliveira, diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Educação em Engenharia.

Mesmo nas áreas em que não há tanta carência, os salários para recém-formados também são altos e ficam entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. Com esses valores torna-se difícil convencer o estudante a focar na pós-graduação. Embora só bolsistas sejam proibidos de trabalhar enquanto estudam, alunos e professores garantem ser muito difícil conciliar as duas atividades.

“Em cidades com um parque industrial grande, como Curitiba, é bastante comum a baixa procura pela pós-graduação. Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), temos alguns casos. Há cursos que oferecem 80 vagas mas têm apenas 50 inscritos”, explica o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR, Luiz Nacamura Júnior.

Pouco interesse

Mesmo com o aumento da oferta de mestrados e doutorados no país – crescimento de 31% em cinco anos –, a falta de interesse por continuar a formação já é percebida na graduação. A adesão a programas de iniciação científica, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PBIC), é baixa. O motivo é o mesmo: enquanto estágios pagam cerca de R$ 1 mil, a remuneração do PBIC fica em R$ 360.

Para incentivar a especialização, universidades e empresas têm investido em mestrados profissionais, nos quais o aluno continua a trabalhar e relaciona a pesquisa à sua atividade. “A instituição de ensino precisa estudar no programa de mestrado ou doutorado a mesma área que a indústria, que emprega o aluno, pesquisa”, comenta o coordenador-geral de pós-graduação da UFPR, Edilson Sérgio Silveira. Grandes empresas e indústrias também apostam em cursos voltados a pesquisas específicas. O profissional trabalha, pesquisa e faz curso de aperfeiçoamento. É o que se chama de universidade corporativa.

Fonte: Anna Simas – Gazeta do Povo

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